O silêncio no carro era confortável, mas também carregado. O som baixo do rádio preenchia o espaço entre as respirações e os pensamentos que ambos não verbalizavam.
Alicia olhava pela janela enquanto Victor dirigia com uma expressão sóbria. Ela ainda segurava com delicadeza a pastinha do pré-natal e o envelope com as imagens do ultrassom — imagens ainda um tanto indefinidas, mas já emocionantes. O pequeno ser estava ali, crescendo dentro dela, com um coração forte e uma presença que transformava tudo.
Na clínica, o médico amigo de Victor fora gentil, atencioso. Explicara que ainda não conseguiu ver o sexo do bebê, mas que estava tudo absolutamente saudável. O bebê já media quase dez centímetros e se movimentava com mais energia do que Alicia imaginava.
Victor observava tudo com atenção silenciosa. Os olhos fixos nas imagens, a mão segurando a dela sem força, mas com firmeza. E, no entanto, havia algo no olhar dele — algo inquieto.
Já no trajeto de volta, ele quebrou o silêncio.
— Alic