Mundo ficciónIniciar sesiónNo momento em que Evie Moretti solta as mãos da própria vida, uma força inesperada a puxa de volta. Vittorio Castellani não é apenas o estranho que a impede de cair — ele é um homem acostumado a controlar seu mundo, mas incapaz de controlar o que sente ao olhar nos olhos dela. Entre segredos conjugais, intrigas familiares e um desejo impossível de ignorar, eles vão descobrir que o verdadeiro perigo não estava na queda, mas no que acontece depois dela.
Leer másMeu nome é Evie Moretti.
Esposa há dez anos de Luca Moretti — o homem que, com minha ajuda, se tornou CEO de um império. Construímos juntos. Lado a lado. Ou pelo menos foi o que eu pensei.Hoje, eu descobri que, durante todo esse tempo, eu não passava de um curativo…
Um substituto para o amor da vida dele.Agora estou aqui.
De pé, no parapeito de um viaduto alto e movimentado, o vento gelado cortando meu rosto, pronta para deixar a gravidade decidir o resto da minha história.Mas não é apenas por saber que ele ama outra que estou aqui.
Eu talvez tivesse aceitado viver com as migalhas dele… Se não fosse pelo que ouvi hoje.Mais cedo…
Entrei em casa sorrindo.
No mercado, havia comprado frutas frescas para preparar um café especial. Hoje fazia exatamente dez anos desde que nos conhecemos.Acreditava que estávamos bem.
Sempre vivemos nossa vida de forma discreta — nada de redes sociais, nada de exibir felicidade para estranhos. Minha mãe sempre dizia: “Felicidade só se compartilha com quem amamos.” E eu amava Luca. Com cada pedaço de mim.O toque do celular quebrou minha paz.
Era Ana Clara, minha amiga de longa data.— Ana? Quanto tempo! Como você está?
— Evie… me responde de coração aberto: como estão as coisas com o Luca?
— Estão bem. Ele não tem mais agido como um idiota quando volta do trabalho… sabe como era, né?
— Hm… — ela pigarreou. — Amiga… preciso te contar uma coisa.
Meu coração apertou.
— Fala. Você está me deixando nervosa.
— Luca acabou de sair do meu consultório. Com uma mulher. Vou te mandar a foto.
A mensagem chegou.
Abri. E meu chão sumiu.Era Cassandra.
A ex-namorada. O amor da vida dele. A mulher que, anos atrás, me enviava mensagens dizendo que ele só estava comigo para esquecê-la.— Ela… está grávida, Evie. Poucas semanas. — a voz de Ana tremeu.
Meu corpo inteiro gelou.
Cada lembrança se tornou uma peça de um quebra-cabeça cruel. As separações repentinas. As desculpas esfarrapadas. Ele sempre voltava… mas não por mim. Sempre por ela.Voltei ao presente.
As frutas ainda na sacola. Meu peito queimando, minha cabeça zunindo. Não chorei. Não dessa vez. Limpei a cozinha, preparei o café, vesti minha blusa branca e salto alto — os que me deixavam mais alta que ele.Coloquei uma música sexy, abri o uísque.
Eu não ia passar por isso outra vez.E então… a ligação.
— Evie… quero terminar. — disse, frio, como quem fala sobre o tempo.
Apertei o copo até doer.
— Você está livre, Luca. Amanhã meu advogado fala com o seu. Felicidades.
Desliguei antes que ele pudesse dizer mais.
Saí.
Sozinha. Com a garrafa de uísque na mão e o coração em frangalhos. Andei pelas ruas frias, a cidade brilhando sob as luzes. O destino me levou até aqui.A brisa gelada no rosto.
A água lá embaixo. O silêncio cortado apenas pelo som distante dos carros.— Você é um idiota, Luca! — gritei para o nada. — E eu fui mais idiota ainda por não ver!
Fechei os olhos.
Me inclinei para frente. Entreguei meu corpo à gravidade.E foi quando uma mão firme agarrou o meu braço.
Bloco 4 POV EVIEOs dias seguintes foram um exercício de sobrevivência. A casa parecia nova, mesmo sendo a mesma, porque tudo nela tinha mudado. Agora havia brinquedos espalhados pelo chão, desenhos infantis nas paredes e o riso tímido de Eloá quebrando o silêncio que antes pesava como chumbo.No início, ela mal falava. Segurava meu braço como se eu pudesse desaparecer a qualquer instante. Aos poucos, começou a arriscar palavras: “água”, “boneca”, “mamãe”. Cada sílaba era um punhal e um alívio ao mesmo tempo. Eu sorria, mas por dentro meu coração se quebrava em mil pedaços.Numa tarde, sentei no tapete com ela. O sol atravessava as cortinas, desenhando linhas douradas no chão. Eloá me mostrou um desenho torto, rabiscado em papel, e disse: — É você.Sorri, sentindo o choro subir. — Ficou lindo, meu amor.Vittorio assistia de longe. Encostado no batente da porta, braços cruzados, olhos fixos. Ele parecia distante, mas eu sentia a tensão na postura, como se carregasse um peso invisível
A casa parecia maior do que nunca. Cada cômodo vazio era um lembrete da ausência que me esmagava, mas também um aviso silencioso: agora havia uma nova vida sob meu teto, e ela precisava de mim mais do que eu precisava do meu próprio luto.Eloá brincava no tapete da sala com um ursinho de pelúcia que alguém havia deixado no funeral. Os olhos dela, ainda marejados, buscavam em cada gesto uma normalidade impossível. Eu a observava em silêncio, sentindo um aperto que misturava amor e medo. Ela não tinha ideia do que estava acontecendo, e talvez fosse melhor assim.“Não posso desmoronar”, repeti a mim mesma como um mantra. Se eu caísse, ela cairia comigo. E eu não permitiria que o mundo a esmagasse como esmagara os pais dela.Vittorio surgiu na porta, o terno impecável destoando da tristeza que pairava no ar. Ele me observou por alguns segundos antes de se aproximar. Os olhos dele carregavam uma preocupação que ia além do que conseguia expressar.— Não sei se é seguro você estar ao meu lad
O céu parecia cúmplice da tragédia. Cinzento, carregado, um peso que se debruçava sobre nós como se quisesse esmagar qualquer resquício de esperança. A garoa fina molhava os cabelos e escorria pelo rosto, confundindo-se com as lágrimas que eu já não tinha forças para conter. O cheiro das flores era adocicado demais, quase sufocante, misturado ao da terra úmida que seria, em instantes, o leito definitivo de Isa e Felipe.Meus dedos tremiam quando apertei a mão de Eloá. Ela parecia tão pequena, tão perdida naquele vestido preto simples, com um laço desajeitado que eu havia feito às pressas. Os olhos dela, grandes e assustados, buscavam em mim respostas que eu não podia dar.— Quando a mamãe acorda? — perguntou, com a inocência cruel que só uma criança poderia ter.O mundo se partiu. Eu queria gritar, queria me ajoelhar e implorar ao destino que desfizesse aquela cena. Mas só consegui abraçá-la, escondendo meu rosto no cabelo macio e cheiroso de infância, tentando sufocar o soluço que am
POV EVIEEu não quis que ele esperasse mais. Levei a mão ao rosto dele e guiei o olhar de volta ao meu. Beijei devagar, como quem oferece água. Meu quadril respondeu primeiro, meu peito acompanhou, e quando ele entendeu que eu queria dar, não só receber, deixou-se ir. O corpo dele tremeu bonito. O nome que ele disse agora foi o meu, mas tinha qualquer coisa de oração antiga. Eu acolhi. Segurei. Mantive o abraço um pouco depois do fim, porque o depois é o lugar onde os começos moram.Ficamos quase quietos. Só o barulho pequeno da nossa respiração tentando reencontrar a normalidade. Os dedos dele passeavam sem propósito específico: a linha do meu maxilar, a curva por trás da orelha, a fronte como se apagasse um medo antigo. Eu beijei os nós dos dedos dele, um por um, e ri de mim mesma no meio da calma.— Que foi? — ele perguntou, sorri
POV EVIEEle deslizou a mão pelas minhas costas e encontrou o fecho. Não apressou. A ponta do indicador traçou o desenho do metal, circulou a pequena peça, reconheceu o mecanismo antes de convencer o fecho a ceder. Quando o vestido afrouxou, senti um alívio físico e uma coragem mental ao mesmo tempo. A pele agradeceu o ar. O tecido desceu um pouco, obediente. Vittorio não arrancou nada — e esse detalhe me incendiou mais do que qualquer brutalidade. Havia algo de reverência nos dedos, um cuidado que me fez querer me oferecer com vontade.Tirei o paletó dele num gesto quase impaciente, e o tecido pesado escorregou do ombro como se estivesse no lugar errado o tempo todo. O cheiro dele ficou mais claro: amadeirado com algo que lembrava chuva recém-caída. Soltei a gravata, e ela veio fácil, rendida à gravidade. Desabotoei dois botões da camisa — devagar, um por um — e senti a pele dele sob a trama do algodão. O calor vazava pelos vãos. Encostei a boca ali. Ele respirou mais
POV Evie Horas antesAs luzes do salão ainda tremulavam nas janelas quando o motor ronronou, grave, pelos fundos do prédio. O som parecia embalar o meu pulso. Senti o fecho do vestido tocar minhas costelas cada vez que eu respirava, como se a roupa também estivesse ofegante.— Para onde estamos indo? — perguntei, tentando conter o sorriso que insistia em nascer.— Surpresa. — Vittorio falou baixo, sem tirar os olhos da rua. — Promete ter paciência?— Você sabe que não sou boa nisso.— Eu sei. — Um canto de riso. — É uma das minhas coisas favoritas em você.O silêncio que veio depois não era vazio; era o tipo de silêncio que escuta. A cidade escorria pelos vidros e eu me via refletida neles: olhos acesos, bochechas quentes, a certeza terna de que algo ia acontecer e que eu não queria recuar.





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