Bloco 4 POV EVIE
Os dias seguintes foram um exercício de sobrevivência. A casa parecia nova, mesmo sendo a mesma, porque tudo nela tinha mudado. Agora havia brinquedos espalhados pelo chão, desenhos infantis nas paredes e o riso tímido de Eloá quebrando o silêncio que antes pesava como chumbo.
No início, ela mal falava. Segurava meu braço como se eu pudesse desaparecer a qualquer instante. Aos poucos, começou a arriscar palavras: “água”, “boneca”, “mamãe”. Cada sílaba era um punhal e um alívio ao mesmo tempo. Eu sorria, mas por dentro meu coração se quebrava em mil pedaços.
Numa tarde, sentei no tapete com ela. O sol atravessava as cortinas, desenhando linhas douradas no chão. Eloá me mostrou um desenho torto, rabiscado em papel, e disse:
— É você.
Sorri, sentindo o choro subir.
— Ficou lindo, meu amor.
Vittorio assistia de longe. Encostado no batente da porta, braços cruzados, olhos fixos. Ele parecia distante, mas eu sentia a tensão na postura, como se carregasse um peso invisível