Capítulo 4

A manhã seguinte chegou carregada por uma estranha inquietação, por uma dor que percorria o meu corpo. Eu havia dormido mal, acordando várias vezes com a lembrança dos olhos de Danilo e das palavras que ele deixou escapar antes de desaparecer na noite.

“Se eu disser, não haverá volta.”

Essa frase martelava na minha mente como um aviso, como se ele carregasse um segredo que não podia me revelar.

Como se tivesse virado tatuagem na minha alma.

Levantei cedo e tentei ocupar a cabeça ajudando minha mãe com as tarefas. Mas até a forma como ela me olhou parecia diferente. Como se estivesse escondendo algo também.

— Dormiu bem, filha? — perguntou em tom neutro, colocando uma cesta de lenha perto do fogão.

— Mais ou menos. — Suspirei, puxando uma cadeira para me sentar. — Mãe… você já percebeu como todo mundo espera que algo aconteça comigo quando eu fizer dezoito? Eu não entendo.

Ela parou por um instante, os ombros ficando tensos. Fingiu continuar mexendo nas panelas, mas eu percebi.

— É só ansiedade da idade. Todos passam por isso, Rebecca. É a novidade.

— Não é isso. — Minha voz saiu mais firme do que eu planejava. — Você sabe de alguma coisa. E não me venha dizer que é só impressão. Ontem, no baile, senti como se… como se todos me olhassem esperando algo que nem eu sei o que é. Até ele…

— Ele? — O olhar dela veio afiado, como uma flecha.  — Quem é ele, minha filha?

— Danilo — admiti, baixando os olhos. — Não sei explicar. É como se tivesse algo entre nós, mas ao mesmo tempo… como se ele me rejeitasse antes mesmo de eu entender o porquê.

— Danilo — mamãe falou alto. — Não o chame assim, ele é o alfa minha filha.

O silêncio preencheu a cozinha. O barulho da panela borbulhando era o único som, até que minha mãe largou a colher de madeira sobre a mesa e se sentou diante de mim.

— Há coisas que você ainda não está pronta para ouvir — disse ela, do nada, e sua voz carregava um peso que me fez arrepiar.

— Eu tenho o direito de saber.

Ela passou a mão pelos cabelos, os olhos cinzentos refletindo a luz da chama do fogão. Eu nunca tinha visto minha mãe tão dividida entre falar e calar. 

Perdida.

Machucada.

— Seu pai… — começou, mas a voz falhou. — Ele morreu antes que pudesse lhe contar.

Meu coração acelerou.

— O que meu pai tem a ver com isso?

— Tudo. — Ela me encarou com seriedade. — A família Silva carrega uma linhagem antiga. Não somos como os outros. O sangue que corre em suas veias é diferente, Rebecca.

Senti a respiração prender no peito.

— Diferente como?

Ela hesitou, olhando para as próprias mãos como se procurasse coragem ali.

— O que você é… só a lua cheia revelará.

Aquelas palavras ficaram suspensas entre nós como uma sentença.

Meu corpo inteiro se arrepiou, e pela primeira vez percebi que o futuro que me esperava não era apenas sobre Danilo ou sobre a matilha. Era sobre algo muito maior. Algo que minha mãe temia revelar.

E, de alguma forma, eu sabia que quando a lua cheia chegasse, nada seria como antes.

Mas na verdade, eu ate que estava muito ansiosa para isso.

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