O abrigo estava em silêncio quando saí naquela manhã. O sol mal tinha nascido, e a rua ainda guardava o frio da noite. Meus passos ecoavam pelo calçamento, e eu carregava comigo uma sensação de vazio que nenhum cobertor, nenhum café e nenhuma mentira conseguia aquecer.
Desde que o estranho havia voltado, desde que suas palavras ecoaram em minha mente, eu não tinha paz. Ele me oferecera algo que, até então, parecia impossível: liberdade. O rompimento do vínculo, a promessa de que eu poderia viver sem sentir a dor de Danilo, sem ser puxada pelo destino como uma marionete da lua.
Era tentador.
Passei o dia inteiro na biblioteca tentando ignorar os pensamentos. Cataloguei livros, atendi crianças, organizei estantes. Mas nada silenciava a voz dele na minha mente.
Você pode ser rainha em outro lugar.
Quando a noite chegou, não consegui dormir. O quarto do abrigo parecia pequeno demais, sufocante demais. Fui até a praça da cidade, sentei no banco frio e fiquei observando a lua subir devagar.