Beijo de Isabel

Patrick viu Isabel entrar em seu escritório e sentiu um estranho tremor. Fazia mais de quinze dias já, era sempre assim. Ela vinha, participava dos eventos importantes como acompanhante, mas tudo em silêncio, depois partia. Agora ela reaparecia, aqueles cabelos dourados como a luz do sol e com os olhos verdes vibrantes que, de alguma forma, o desequilibravam. Ele se apressou em colocar sua máscara de frieza habitual. Era um mecanismo de defesa; o mundo dos negócios o ensinara a não mostrar fraqueza, e Isabel, desde a primeira vez que a viu, tinha o poder de despertar nele sentimentos e expectativas que ele não sabia como lidar. Ele estava acostumado à sua solidão, à previsibilidade de sua vida controlada, e preferia mil vezes ficar nela a se arriscar novamente.

_ Isabel, ele disse, a voz mais neutra do que pretendia.

_ A que devo a honra?

Ela começou a falar sobre a Rollsbrook S.A., sobre a crise. Ele já esperava por isso. Victor. O sogro, sem dúvida, a havia mandado. O velho Rollsbrook era previsível, sempre usando a filha como um peão em seus jogos. Patrick sabia que a situação da empresa da família dela era precária. Seus analistas haviam rastreado os problemas, e ele já os havia ajudado inúmeras vezes no passado, indireta e diretamente, desde o início do acordo. Mas de nada adiantou.

Ele ouviu Isabel falar sobre a desvalorização dos ativos da HS, sobre a reputação. Tentava parecer impassível, mas por dentro, uma irritação crescia. Era sempre o mesmo ciclo: os Rollsbrook metiam-se em problemas, e ele tinha de consertar. E o pior era o meio-irmão de Isabel, um inútil completo nos negócios, sempre fazendo bobagens, desperdiçando capital e fechando acordos desastrosos. Patrick havia descoberto até mesmo alguns contatos em que a Rollsbrook superfaturava, o que era um risco imenso para a HS Company.

_ Isabel, entendo sua preocupação, ele disse, mantendo a voz fria.

_ Mas a HS fez sua parte no acordo. Adquirimos o que era de nosso interesse. Problemas internos da Rollsbrook são, bem, problemas da Rollsbrook.

Ele a viu se encolher ligeiramente e, por um instante, sentiu um pontada. Mas logo a afastou. Não podia se dar ao luxo de ser mole.

Quando ela insistiu, mencionando "vida ou morte", ele sentiu um leve desdém. Dramática. Para eles era sempre assim. Sempre uma família dramática.

_ Vida ou morte, Isabel? Creio que você está sendo um pouco dramática. A família Rollsbrook sempre soube se virar.

Ele viu a frustração dela crescer, e parte dele, a parte insegura que se protegia, quase se satisfez com isso. Que ela visse que ele não era seu salvador.

Então, ela pediu a bebida. Um whisky. Patrick a observou servir-se, a mão dela tremendo. Virou o copo de uma vez. Patético. Ele a viu cambalear, a cor esvair-se de seu rosto. A sala pareceu ficar quente demais.

Ela se serviu um copo cheio, sem medir, e o virou de uma vez, em um ato desesperado. O líquido âmbar desceu queimando, e um arrepio percorreu seu corpo. Ela tossiu levemente, o rosto corando. A resistência ao álcool de Isabel era praticamente zero, e os efeitos começaram quase imediatamente.A bebida, não trouxe clareza. Ao contrário, o pouco álcool que ingerira, somado ao estresse, atingiu-a com força. A cabeça começou a girar, a sala a balançar levemente. As palavras de Patrick, antes frias, agora pareciam vir de um túnel distante, distorcidas e confusas. Ela se sentia tonta, desorientada, a visão embaçada. A tentativa de parecer forte e racional havia desmoronado sob o peso da ansiedade e da bebida. Patrick, percebendo a mudança em sua postura, ergueu uma sobrancelha, uma ponta de irritação em seu olhar.

_ Isabel, você está bem?

Mas as palavras dele já não chegavam direito. Isabel sentiu o chão sob os pés ceder, o estômago revirar. Sua cabeça latejava. A reunião, a última esperança, estava se transformando em um borrão humilhante. Ela só queria sair dali.

_ Eu vim... vim pedir... ah! Fernando é um… um incompetente!, ela balbuciou, os olhos verdes fixos em Patrick, mas sem realmente vê-lo.

_ Totalmente incompetente. Sempre foi. Meu pai... Lívia... todos sabiam. Mas ninguém fez nada! E agora... agora estamos todos afundando por causa daquele... daquele incompetente!

Patrick a observava, um divertimento discreto dançando em seus olhos azuis. Nunca a vira assim. A postura formal de Isabel havia se desfeito, substituída por uma franqueza embriagada que era, para dizer o mínimo, inesperada e divertida. Ela balançava a cabeça, as palavras saindo em um fluxo descontrolado, a cada "incompetente" acompanhado de um gesto exasperado.

_ Ele é um peso morto! Uma âncora afundando o navio! Incompetente! In-com-pe-ten-te!, ela repetia, quase dançando no lugar.

De repente, ela perdeu o equilíbrio. Patrick agiu por instinto, levantando-se e segurando-a antes que caísse. Ele a conduziu até o sofá de couro, sentando-se ao lado dela enquanto ela ria desajeitadamente.

_ Obrigada, ela murmurou, a cabeça pendendo para o lado, os olhos verdes agora curiosamente fixos nos dele.

_ Você tem... olhos azuis muito bonitos, sabia? Profundos... como o oceano.

Ela estendeu uma mão trêmula e tocou a lateral do rosto de Patrick, um toque suave e inesperado que o deixou atordoado. A proximidade revelou seu perfume, um aroma sutil e floral que ele nunca havia notado antes, misturando-se com o cheiro do uísque.

_ Por que você não gosta de mim, Patrick?, ela perguntou, a voz quase um sussurro, sua respiração quente em seu rosto.

_ Por que você não quer uma família comigo? você nunca... nunca me toca? Não tem nada em mim que você goste?

Patrick ficou sem resposta. As palavras dela, despidas de qualquer formalidade ou protocolo, atingiram-no de uma forma que ele não esperava. Ele sempre vira o casamento como um mero contrato, Isabel como uma parte da equação. Nunca pensou sobre gostar ou não gostar. Nunca a tocou por não haver necessidade, por não haver o "permitido" no contrato tácito de seu casamento. Mas, agora, com ela tão perto, seu perfume o envolvendo, e a vulnerabilidade em seus olhos, ele se viu sem palavras. Antes que pudesse processar a pergunta, ou formular qualquer resposta, Isabel se inclinou. Seus lábios, macios e quentes, encontraram os dele em um beijo inesperado. O álcool havia quebrado todas as suas barreiras, e a ação, tão audaciosa quanto ingênua, o pegou completamente desprevenido.

O beijo de Isabel, inebriado e desesperado, pegou Patrick completamente de surpresa. Seus lábios eram macios, com o gosto sutil de uísque e algo mais, algo doce e floral que o atordoou por um instante. Ele permaneceu imóvel, os músculos tensos, sentindo o calor do corpo dela tão perto. A mente dele, acostumada à ordem e ao controle, lutava para processar a audácia daquele toque. Ele deixou que ela o beijasse, não correspondendo, apenas absorvendo a sensação.

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