— Você é um inútil, German! Nunca presta atenção nas coisas! Sempre foi assim!
A voz da minha mãe. Ácida. Cega de raiva.
Meu peito se apertou.
— Pai… — minha voz saiu mais baixa.
— O que tá acontecendo?
— Sua mãe só tá um pouco alterada — ele tentou minimizar, mas o jeito como sua respiração pesou me dizia outra coisa. — Tá tudo bem.
Minha mandíbula enrijeceu.
— Quando vocês voltam?
Outro silêncio. Esse demorou mais.
— Filha… eu ainda não sei. Mas quando eu terminar de resolver as coisas aqui, eu vou.
E então minha mãe voltou a gritar. Acusações, palavras duras, uma enxurrada de ódio direcionada a ele. O inferno que atravessava a linha como um veneno, que eu conhecia bem demais.
Ouvi meu pai soltar o ar, cansado.
— Eu… depois a gente se fala, tá bom, querida?
E antes que eu pudesse responder, a chamada foi encerrada.
Fiquei ali, imóvel, o celular ainda colado ao meu ouvido. O silêncio do quarto pareceu ensurdecedor depois daquela tempestade.
Eu já deveria estar acostumada. Mas não es