Ponto de vista de Enrico
Ela me olhou como se soubesse de tudo.
E talvez soubesse mesmo. Porque Giovanna sempre teve esse poder maldito de me atravessar com os olhos. Não era só beleza — embora ela fosse linda até irritar —, era a forma como ela me via. Como se me enxergasse por dentro, como se estivesse sempre dois passos à frente de mim.
Ela entrou na sala de leitura, onde eu tentava fingir que estava lendo qualquer coisa. O coração já acelerava desde que soube que ela estava na casa. Não bastava vê-la na noite anterior, não bastava o cheiro dela no corredor, a memória da infância que dividimos e da adolescência que escondemos. Não bastava. Nunca bastou.
Ela se aproximou devagar, os passos firmes, silenciosos. Fechei o livro sem nem saber o que tinha lido nas últimas dez páginas. Tentei parecer casual. Falhei miseravelmente.
— Podemos conversar? — perguntou. A voz dela estava baixa, tensa.
— Sempre. — respondi, mesmo que minha garganta estivesse seca.
Ela parou diante de mim, braços