No dia seguinte amanheci com um gosto metálico na boca.
Notícias, opiniões e teorias se espalhavam como óleo em água — às vezes um brilho, às vezes um cheiro de podridão.
Mas ali, no alto da minha cobertura, o mundo era reduzido àquele apartamento e à presença dele: Rafael, de pé junto à janela, com os ombros largos recortados contra a luz cinzenta.
Ele virou quando me viu entrar. O olhar não tinha sono — tinha foco, predador.
— Dormiu? — perguntei, mas minha voz saiu mais fraca do que eu queria.
— Dormi pouco. — Ele respondeu sem rodeios. — Não podemos perder tempo.
E era verdade, não havia espaço para sentimentalismo agora. Depois do sequestro, depois das confissões extraídas por tortura, depois da confirmação de que Ana e Olga tinham puxado os fios daquele ataque, a guerra deixou de ser uma metáfora e transbordou para as ruas, para os escritórios, para os quartos. Era tangível, sujo, mortal.
— O que propõe? — perguntei, sentando à mesa, pegando a caneca de café que Lucas deixara ai