Dante permaneceu imóvel por alguns segundos, os olhos fixos na porta por onde Elena acabara de desaparecer. A silhueta esguia dela ainda parecia dançar em sua mente, como um fantasma elegante que se esvaía, deixando para trás apenas o eco abafado dos passos apressados — um som que reverberava dentro dele como um lembrete cruel de que algo havia se partido. E não era só o vaso.Com uma calma calculada, ele caminhou até os destroços espalhados pelo assoalho de madeira polida, o som seco de seus sapatos caros contrastando com o silêncio denso do ambiente. O ar parecia suspenso, carregado de uma tensão que teimava em não se dissipar. Ajoelhou-se com cuidado, o terno impecável se ajustando ao movimento, e apanhou o maior fragmento da cerâmica destruída. Passou o polegar pela borda irregular, arriscando um corte, mas sem hesitar — como se a dor física fosse preferível ao que sentia por dentro.Aquele era o vaso favorito de Clarisse. Nele, ela sempre colocava peônias frescas, mesmo nos dias
O carro deslizava pelas ruas quase desertas da cidade, o ronronar do motor ecoando entre os prédios silenciosos. As fachadas antigas, manchadas pela ação do tempo, pareciam observar tudo com olhos cansados. Acima delas, o céu exibia um azul sujo, riscado por nuvens espessas que, lentamente, engoliam a luz do sol. A promessa de uma tempestade pairava no ar — uma daquelas que varrem certezas, lavam segredos e arrastam o que encontram pela frente.Na direção, o motorista permanecia impassível. O maxilar tenso, os olhos fixos na estrada como se nada além da rota importasse. Nem mesmo o crescente cheiro de chuva parecia distraí-lo. Já no banco traseiro, Dante deixava o corpo afundado no estofado de couro, os dedos tamborilando de leve contra a perna. Sua mente, no entanto, vagava por territórios bem mais turbulentos do que aquele céu ameaçador.Elena.O nome dela ressoava como um sussurro insistente, uma corrente fria que lhe percorria a espinha e trazia consigo a inquietação. Desde o insta
O silêncio seguinte foi espesso. O ar entre eles parecia ferver.Firmino se manteve imóvel, embora seus olhos saltassem de um para o outro como se aguardasse o primeiro sinal de explosão.Dante inclinou levemente a cabeça, como se apreciasse o insulto.— Que bom que pensa assim. Vai facilitar as coisas quando eu te derrubar... sem precisar tirar a máscara.Alejandro sorriu. Mas era um sorriso sem alegria, cheio de veneno e promessas não ditas.— Tenta.Dante arqueou uma sobrancelha sob a máscara negra, analisando cada detalhe da figura à sua frente como quem avalia uma peça de decoração exótica — e decididamente cafona.O terno azul-marinho, justo demais nos ombros largos. O topete perfeitamente engessado com gel, digno de uma propaganda de anos 80. E os sapatos… reluzentes, pretensiosos, brilhando como espelhos de vaidade.“Deus me livre.”— Alejandro Vasquez, mi querido — disse Dante, numa entonação carregada de doçura falsa, o sarcasmo escorrendo por cada sílaba como mel azedo.Com
O estrondo dos tiros rasgou o ar, misturando-se aos gritos apavorados que ecoavam pela boate. O desespero tomou conta do ambiente, pessoas corriam em todas as direções, esbarrando umas nas outras, derrubando mesas e copos no chão. Luzes piscavam freneticamente, criando sombras fantasmagóricas que tornavam a cena ainda mais caótica. No palco, Elena estava encolhida no chão, escondida atrás da mesa de DJ que, até poucos segundos atrás, vibrava ao som da sua música eletrônica. Seu coração martelava contra o peito, um tambor incessante de puro pavor. O ar cheirava a pólvora e suor. Com as mãos trêmulas, ela tentava inutilmente esconder a cabeça, como se pudesse se tornar invisível. Então, de repente, um silêncio sepulcral tomou conta do ambiente. Elena prendeu a respiração. O medo a consumia por completo, seus músculos estavam rígidos, incapazes de reagir. O que aconteceria agora? O silêncio foi quebrado por passos firmes e cadenciados, ressoando no piso como se pertencessem a um p
Quando abriu os olhos, Elena sentiu o impacto do frio em sua pele. O chão duro sob seu corpo era úmido, e um cheiro nauseante tomava o ar, fazendo seu estômago revirar. Ela piscou algumas vezes, tentando se ajustar à escuridão opressora que a cercava. Seu primeiro instinto foi se levantar, mas o movimento repentino trouxe uma onda de tontura. Ainda assim, forçou-se a ficar de pé, os joelhos trêmulos. O coração acelerou ao perceber o que a rodeava: três paredes sólidas e uma cela de barras de ferro à frente. Uma prisão. O pânico a impulsionou para frente. Ela correu até as grades e agarrou o ferro frio com as mãos suadas. Do outro lado, um corredor estreito e mal iluminado se estendia diante dela. À esquerda e à direita, havia mais celas. Vazias. Todas vazias. — Socorrooo! — Elena gritou, sua voz ecoando pelo espaço sombrio. O silêncio que veio em resposta a fez se sentir patética. Claro que ninguém viria. Claro que quem a jogou ali não deixaria ajuda por perto. Ela tentou de novo
D ante estava à beira da exaustão, sua mente afiada como a lâmina do machado que empunhava, mas o seu interior continuava em frangalhos, dilacerado pela raiva e pelo descontrole que ele mesmo havia permitido. Ele olhava para o machado, uma extensão de sua própria raiva, e podia quase sentir o peso de seus próprios fracassos se refletindo no metal escuro. O protocolo já estava em andamento, as mulheres do Egito seriam transportadas em breve, divididas em três partes, uma operação arriscada que ele não podia deixar falhar. Mas a cabeça dele estava longe disso, perdida em um emaranhado de frustração e um desejo urgente de vingança contra a incompetência de seus subordinados. Eles haviam traído sua confiança, e agora ele precisava retomar o controle, mostrar quem comandava ali. Ele se levantou, ainda com o machado em mãos, e foi até a mesa onde deixara sua máscara. Aquele objeto, que o distanciava de sua humanidade, era o último passo antes de se transformar no que ele precisava ser: um
Enquanto isso, Demétrio quase precisou pegar Elena nos braços. A loira, ainda tomada pelo choque, tinha as pernas bambas, tremendo incontrolavelmente, enquanto as lágrimas corriam livremente por seu rosto. Com a vida difícil que levou desde a infância, ela já havia sido testemunha de muitas atrocidades, mas nada se comparava àquele ato repulsivo diante de seus olhos. Ao ser trancada novamente na cela, ela se arrastou até a parede, onde se encolheu, balançando o corpo para frente e para trás, num movimento quase automático. Era como se tentasse se acalmar, como se aquele balançar frenético fosse uma tentativa de afastar a realidade daquele lugar. Agora, mais do que nunca, temia o tal Dom Mascarado, assim como todos aqueles que ouviam seu nome em sussurros. E não era para menos. Dante não tinha piedade. Ele era implacável, um monstro que se escondia atrás de uma máscara. Mas ela sabia, de alguma forma, que todos nessa vida tinham um ponto fraco. Algo guardado nas profundezas do coração
Dante estava sentado em sua cadeira, a postura imponente e firme, uma demonstração clara de seu poder. A máscara, como sempre, escondia seu rosto, mas seus olhos brilhavam com uma intensidade ameaçadora. Ele não precisava dizer uma palavra para que qualquer um soubesse o que ele representava. O silêncio pesado no ambiente era quebrado abruptamente pela porta, que se abriu de forma brusca, revelando Firmino. O homem entrou, ganhando imediatamente a atenção de seu Dom. Firmino não pôde deixar de notar a arma sobre a mesa. Ele sabia que aquilo não era apenas um objeto qualquer — era um aviso silencioso, uma mensagem do quanto Dante estava furioso. Os dois se conheciam desde pequenos, e Firmino já havia sido ameaçado diversas vezes por Dante, mas essa era a segunda vez que via a arma do amigo sobre a mesa. A primeira foi no dia da grande tragédia. — O que estava pensando quando trouxe aquela mulher para a cela? — Dante se levantou de repente, seu corpo rígido com raiva, e encarou Firmin