Alice descobriu, com surpresa, que o silêncio podia ser uma ponte — e não um abismo. Nos dias que se seguiram, os encontros com Daniel eram sempre contidos, medidos, quase coreografados por um cuidado que nenhum dos dois ousava quebrar.
Mas, mesmo nos gestos mínimos, havia um tipo de linguagem que dispensava palavras.
Era como se ambos tivessem medo de que qualquer frase mal colocada fizesse ruir a trégua frágil que haviam estabelecido.
Naquela manhã de sábado, a mansão estava especialmente quieta. Telma havia ido visitar uma irmã no interior, Sabrina tinha sido levada por uma tia para passar o fim de semana, e os funcionários haviam recebido folga. Alice sabia que encontraria a casa quase vazia. Talvez, por isso mesmo, vestiu-se com calma, como quem aceita o inevitável. Sabia que Daniel também estaria lá.
O café da manhã havia sido servido na varanda, como nos velhos tempos. Mas apenas para dois.
Alice hesitou ao ver a mesa posta, as duas cadeiras, a toalha bordada com os desenhos fl