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Desde que a mãe partira, tudo em Alice parecia suspenso. Os dias deixaram de ter começo, meio e fim. A mansão, antes cheia de sons, agora era atravessada por um silêncio denso, quase sólido. Nem mesmo o choro dos bebês — suaves, frágeis, ainda tão novos neste mundo — parecia capaz de furar o véu de tristeza que a envolvia.

Alice passava horas sentada na poltrona do quarto, olhando os berços duplos como se ainda não compreendesse que aquelas duas pequenas vidas haviam saído de dentro dela. Era estranho. Queria amá-los com força, como sempre sonhou, mas tudo o que conseguia sentir era um vazio do tamanho do mundo.

Daniel fazia o que podia. Contratou uma enfermeira para os gêmeos, organizou a logística da casa para que Alice pudesse descansar, trouxe flores, chá calmante, um terapeuta — tudo. Mas era como se Alice tivesse se trancado por dentro. A morte da mãe e o susto do parto prematuro haviam feito mais do que a derrubar: haviam despedaçado algo muito íntimo e antigo, como uma coluna
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