O inverno parecia ter chegado mais cedo naquele ano. Na mansão cercada por colinas e árvores antigas, os dias ficavam mais curtos, as noites mais longas, e o frio se instalava não só nos cômodos de mármore e cortinas pesadas, mas também em certos silêncios que agora permeavam a casa.
Alice estava com a gravidez avançada, e mesmo com todos os cuidados, nem sempre se sentia bem. Os hormônios bagunçavam seu humor, o corpo doía de um jeito que ela nunca havia experimentado e, por mais que tentasse manter a mente serena, a ansiedade a corroía por dentro.
A presença constante da mãe ao seu lado era, ao mesmo tempo, uma bênção e um alerta silencioso. Dona Tereza havia se mudado para a mansão por insistência de Daniel, que dizia que ali ela teria mais conforto, mais cuidado, mais tudo. A verdade, porém, é que a mãe de Alice já dava sinais de cansaço. Havia noites em que tossia baixinho, escondendo a mão no lenço; outras em que parecia esquecer pequenas coisas, como o nome de um chá ou onde gu