O relógio da cozinha parara fazia semanas. O ponteiro dos minutos enganchado entre o seis e o sete, imóvel, como se o tempo tivesse desistido de andar dentro daquela casa. Alison olhava para ele enquanto mexia o café preto na caneca lascada. Não tomava, só mexia. O cheiro amargo subia como um lembrete da noite maldormida.
A mesa estava coberta de papéis. Recortes de jornal, fotos antigas, anotações rabiscadas em guardanapos. Um quadro improvisado na parede, com linhas vermelhas ligando rostos e datas. Parecia coisa de delegado obcecado com um caso. Mas não era investigação. Era sobrevivência. Era vingança.
No centro, uma foto de Juan. Ele ainda jovem, camisa clara, os olhos semicerrados pelo sol de uma manhã qualquer. O tipo de imagem banal que só ganha importância quando não se tem mais nada. Ao redor, rostos conhecidos: Emma, a filha. Andrea, a sua mãe biológica. A própria irmã Ayla, recortada de uma matéria qualquer, o sorriso congelado para as câmeras. E, em um canto, a sombra que