Alison já não sabia se era dia ou noite. O tempo deixara de obedecer quando ela voltara a pisar naquela cidade. Cada esquina tinha cheiro de passado, cada barulho de portão se abrindo parecia um assombro. As noites eram piores. Bastava deitar para que os fantasmas surgissem. O toque de Juan em suas costas quando ela ainda acreditava ser amada, o riso abafado de Emma pedindo mais uma história antes de dormir, a respiração de Ryan em seu pescoço, que ela nunca soube distinguir se era desejo ou ameaça.
Fechava os olhos e era beijada e cuspida ao mesmo tempo.
Agora estava ali, escondida do lado de fora da mansão, com as mãos frias apertando o casaco surrado contra o peito. A mansão Barichello ainda se erguia orgulhosa no alto da rua estreita, iluminada demais, como se quisesse provar ao bairro que continuava intocável, que os escândalos não a alcançariam. Só ela sabia da mentira encarnada em cada tijolo.
“Libertá-los”, foi assim que ela tentou justificar a si mesma. Mas não era libertação