A rachadura não apareceu de repente. Sempre esteve lá, desde o início. Mas os anos a transformaram em fenda, e a fenda em abismo. Edgar e Deisi já não dividiam o mesmo quarto havia tempo. Dormiam em camas separadas, em silêncios que gritavam mais do que qualquer briga. O corredor se tornou campo neutro, onde os passos ecoavam sem encontro, como se cada um estivesse preso em sua própria prisão, sem a chave para a liberdade.
Ayla, entre eles, foi se tornando a desculpa perfeita. Tudo o que doía no casamento virava peso jogado sobre ela. Se Edgar bebia demais, era porque “a menina dava trabalho”. Se Deisi sumia noites inteiras, era porque “a casa ficou insuportável desde que ela entrou”. Nenhum deles ousava dizer a verdade: o casamento já tinha acabado antes mesmo de Ayla chegar. E assim, a jovem se tornava o espelho quebrado de um amor que já não existia, refletindo apenas as sombras de um passado que se recusava a ser esquecido.
A cozinha era o palco mais claro. Edgar abria o jornal so