Vera
Quando eu e o Érico nos casamos… ele era pobre.
Ambicioso? Sempre foi. Mas pobre.
Morávamos num apartamento pequeno, mal ventilado, com piso rachado e azulejo encardido.
Ele vivia dizendo que um dia ia ter um império… que ia deixar todo mundo de boca aberta.
Na prática… quem segurava a casa de pé… era eu.
Ele nunca me deixou trabalhar fora.
Machista ao extremo. Mulher, pra ele, tinha que ficar em casa. De avental, cabelo preso… e sorriso no rosto, mesmo com a coluna pedindo socorro.
Enquanto ele sonhava com poder… eu lavava, passava, cozinhava…
E era eu quem catava as roupas sujas, os papéis esquecidos nos bolsos, os recibos amassados em cima da pia.
Foi assim que comecei a juntar os pedaços.
Primeiro, uns cartões de visita estranhos…
Gente que eu nunca tinha ouvido falar… com nomes que não batiam com os clientes que ele dizia ter.
Depois, os cheques.
Depósitos que não faziam sentido pra alguém que só pegava serviço pequeno de reforma.
Teve o dia em que achei um maço de dinheiro