Ana sempre viveu pela razão. Médica dedicada, acostumada a salvar vidas, nunca imaginou que a própria fosse virar um experimento do destino. Num piscar de olhos, é arrancada do mundo moderno e jogada num reino de trevas e magia — onde lobos uivam com fome de poder, dragões vigiam os céus, e elfos e fadas vivem sob leis sangrentas. Lá, ela é considerada uma “forasteira marcada”. E o mais perigoso de todos os predadores, o lorde lobo Kael, jura que ela pertence a ele. Enquanto tenta encontrar uma saída, Ana descobre que seu corpo guarda um segredo antigo — uma chave capaz de destruir ou salvar aquele mundo. Envolta por paixões proibidas, alianças mortais e magia corrompida, ela vai precisar decidir entre lutar pela própria liberdade… ou se render ao monstro que jurou nunca amar ninguém.
Leer másCapítulo 37 – A Criança do Véu DuploO ar estava diferente.Desde que Ana emergira do Espelho das Almas Não Nascidas, tudo ao seu redor parecia mais… vívido.As folhas tinham cores mais profundas.Os sons do mundo — até mesmo o silêncio — pareciam pulsar com um novo ritmo.Mas o que mudara mais intensamente… era ela.---Naquela madrugada, Ana acordou com o corpo tremendo, envolta em suor e luz prateada.Kael e Riven estavam ali, como sempre — atentos, preocupados, protetores.— O que está acontecendo com ela? — Kael perguntou, o tom rouco de medo disfarçado.— A magia está se expandindo — respondeu Riven, observando a luz que escapava dos poros dela. — Não é mais apenas curativa… ela está alterando o tecido da realidade.E de fato, estava.Onde Ana pisava, a terra florescia… ou morria.O céu parecia inclinar-se sobre ela.As fadas a chamavam de “A Mãe Dupla”, os lobos uivavam em reverência silenciosa, e até os dragões distantes começaram a despertar de seu sono ancestral.Mas com a r
Capítulo 36 – A Escolha dos GêmeosO caminho até o Espelho das Almas Não Nascidas era silencioso demais.Após a audiência com os Guardadores, o mundo ao redor parecia diferente.O ar pesava.O tempo escorria lento.Até os passos tinham ecos que não pertenciam a eles.Ana sentia a presença dos dois gêmeos em conflito dentro de si — como duas estrelas presas no mesmo céu, girando perigosamente uma ao redor da outra.Ela já não tinha certeza de onde terminava e onde começavam seus filhos.Kael caminhava à frente, as costas nuas marcadas por runas de proteção que ele próprio havia entalhado na pele.Riven vinha logo atrás, olhos fixos no céu opaco, onde as estrelas dançavam em lugares errados.Tudo estava fora do eixo.Tudo era… espera.---O Espelho não era um artefato físico.Não era de vidro.Era um campo de energia ancestral, uma névoa que flutuava sobre um lago congelado feito de prantos nunca chorados.Ana entrou primeiro.Seu corpo se dissolveu em luz.---Dentro do Espelho, Ana nã
Capítulo 35 – Gêmeos do Início e do FimA noite seguinte à revelação foi um corte profundo na alma de todos.O mundo parecia respirar devagar.Como se soubesse que algo impossível — e perigoso — agora vivia dentro de Ana.Ou talvez… em volta dela.Ela estava mais silenciosa.Sentia os dois.A filha: quente, viva, ansiosa por nascer.O filho: frio, oculto, esperando o momento certo para rasgar a realidade com seus dentes feitos de ausência.Kael dormia pouco, as garras surgindo involuntariamente mesmo nos momentos de paz.Riven passou a andar armado, mesmo dentro do santuário sagrado de Lirien.Ambos tinham medo.Não de Ana.Mas do que o mundo faria com ela se descobrisse que ela não carregava só a salvação… mas o fim.---— Existe alguém que pode saber o que fazer — sussurrou Lirien, a anciã fada de olhos cegos.— Os Guardadores do Véu.— Isso é lenda — disse Kael, cruzando os braços, o olhar duro. — Nem os mais antigos viram esses seres.— E mesmo assim — respondeu Ana, firme — estam
Capítulo 34 – O Filho que Nunca NasceuSilêncio.E então, o choro.Não o choro da filha de Ana — que dormia em sua forma etérea, abrigada no ventre cheio de luz.Era algo mais antigo.Mais… errado.Riven foi o primeiro a sentir. Um arrepio percorreu sua espinha, escamas surgindo de imediato como defesa instintiva.Kael, ao lado de Ana, rugiu baixo — o som mais animalesco que ela já ouvira dele, algo entre um aviso e uma súplica.A criança dentro de Ana se encolheu, e o fogo prateado que sempre emanava dela se apagou por um segundo.Um segundo apenas.Mas foi o suficiente para ele se manifestar.O espelho dentro da Boca do Mundo Morto rachou, revelando uma fenda de escuridão viva.Dela, algo escorregou.Primeiro, uma mão — ossuda, coberta por pele negra como breu seco.Depois, olhos — não brilhantes, mas ocos. E, mesmo sem luz, olhavam diretamente para Ana.Kael se colocou na frente dela.— Fique atrás de mim — ele rosnou. — Isso não é natural. Isso não é nosso.Mas a voz que veio não
Capítulo 33 – A Boca do Mundo MortoA floresta sussurrava o nome dela.Ana.Aquela que carrega a chama.Aquela que rompeu a profecia.Aquela cujo ventre carrega o novo começo… ou o último fim.Enquanto os ventos ancestrais arrastavam folhas vermelhas pelo chão, Kael e Riven caminhavam ao lado de Ana em silêncio absoluto. À frente, escondida entre ravinas e montanhas que não constavam em nenhum mapa, estava a Boca do Mundo Morto.Não era um templo.Não era uma ruína.Era uma ferida no tecido da existência, um lugar onde o mundo gritou e nunca cicatrizou.Três luas pálidas sangravam no céu como olhos mortos, e era sob essa tríplice luz que a passagem se abria. Uma rachadura profunda, feita de ossos e raízes negras, exalando um vapor azulado que deixava o ar pesado como pecado.Ana sentia a criança se agitar em seu ventre.Diferente de antes.Não com medo. Mas com fome de verdade.Kael encostou o corpo ao dela.— Você não precisa fazer isso sozinha.— Se o que está aí dentro tentar tocá-
Capítulo 32 – A Criança que Sonha com ChamasA madrugada era silenciosa demais.Nem os ventos sussurravam, nem os animais da floresta se faziam ouvir. A atmosfera estava carregada de uma tensão invisível, como se a própria natureza estivesse prendendo o fôlego.Ana acordou ofegante.Não por dor.Mas por algo dentro dela.A magia se agitava sob sua pele. O ventre pulsava com luz e calor. A criança — sua filha — estava sonhando. Mas não eram sonhos comuns. Não eram imagens doces de um mundo calmo.Eram chamas.Gritos.Duas luas quebradas no céu.Ela se sentou na cama de folhas e cobertores improvisados no santuário de Lirien. O suor escorria entre os seios, e seus cabelos colavam ao pescoço. Kael dormia próximo, o peito nu subindo e descendo devagar. Riven, inquieto, vigiava de pé, encostado na entrada da caverna. Os olhos dele brilharam quando ela se mexeu.— Ela está... diferente — Ana sussurrou.Riven se aproximou em silêncio. Encostou a testa no ventre dela, como fazia todas as manh
Último capítulo