O Segredo Sónbrio
O Segredo Sónbrio
Por: Cássia
O Acidente

Capítulo 1 – O Acidente

As luzes da sala de cirurgia tremeluziam como se pudessem apagar a qualquer instante.

O monitor cardíaco emitia bipes frenéticos enquanto o corpo ensanguentado na mesa cirúrgica tremia sob as mãos firmes da médica Ana Vasconcellos.

— Pinça... — ela murmurou, com os olhos presos na hemorragia.

— Pinça! — gritou, quando a enfermeira hesitou.

Ela não podia perdê-lo. Não mais um.

O sangue jorrava como um rio furioso, tingindo suas luvas e encharcando o jaleco. Mas Ana não via o horror — apenas o que ainda podia ser salvo.

Ela aplicou pressão, costurou, controlou.

Milésimos de segundo decidiram o desfecho.

Então, de repente... silêncio.

O coração do paciente voltou a bater com um bip suave e contínuo. Alívio percorreu o corpo de Ana como uma onda morna. Ela afastou o suor da testa com o antebraço, ignorando a tensão nos ombros, o cansaço nos ossos, a exaustão que já durava dias.

Mas quando deu o primeiro passo para fora da sala, o mundo girou.

As luzes se apagaram de uma vez.

O chão pareceu ceder.

E algo — algo invisível, impossível — puxou Ana para trás.

Ela não caiu.

Ela foi engolida.

---

O ar era outro. Denso, selvagem, como se estivesse presa em uma floresta úmida logo após uma tempestade.

O chão sob seus pés era terra. Fria, irregular.

O silêncio era total — e então, quebrado por um uivo.

Ana abriu os olhos. Estava deitada no meio de uma clareira cercada por árvores enormes, retorcidas, que pareciam vivas. A lua acima era vermelha, enorme, quase violenta.

— Que porra é essa...? — sussurrou, sentando-se devagar.

Suas roupas hospitalares estavam intactas, mas cobertas de sangue seco. O dela? O do paciente? Ela não sabia.

Ela se levantou com esforço, olhando ao redor. Nenhum sinal do hospital, de pessoas, de civilização. Só a floresta e... olhos. Amarelos, brilhantes, observando entre as árvores.

Um rosnado.

— Eu não quero machucar vocês — disse, estendendo as mãos instintivamente, embora soubesse o quão inútil aquilo era.

Ela era uma médica. Não uma guerreira.

Mas as criaturas avançaram.

Cinco lobos. Enormes. Com patas tão grandes quanto sua cabeça. Seus pelos eram negros como cinzas, e os olhos, inteligentes... quase humanos.

Ela correu. Descalça, tropeçando nas raízes, arranhando os braços em espinhos que pareciam estender-se só para feri-la. Correu até os pulmões queimarem, até sentir que os gritos ficavam presos na garganta. Quando caiu, a dor foi explosiva — mas algo estranho aconteceu.

O sangue escorria do corte em sua perna.

E, diante dos olhos arregalados de Ana... o ferimento começou a se fechar. Rápido. Sozinho.

— O que...?

Ela não teve tempo de entender. Um rosnado diferente soou — mais grave, mais profundo. Os lobos pararam. Recuaram como se tivessem sido chamados.

Então ele surgiu.

Dos arbustos altos, saiu uma figura alta, vestida em couro escuro e coberta por um manto cinza manchado de sangue. Seus olhos eram dourados, intensos. As presas visíveis sob os lábios indicavam que ele era tão lobo quanto as feras.

Mas aquilo não era apenas um lobo. Era o predador. O alfa.

— Você... não é uma de nós — ele disse, a voz rouca como pedra rachando.

— O que é você?

Ana ficou muda. Seus olhos encontraram os dele. E uma sensação estranha a tomou — como se sua alma fosse puxada por correntes invisíveis até aquele homem.

Ela sentiu frio.

Medo.

Desejo.

— Me responda — ele avançou, feroz.

— Eu sou humana — sussurrou, sem entender por que dizia aquilo em voz alta.

Mas ele congelou.

Os lobos ao redor rosnaram em choque.

E então o lorde lobo sorriu — um sorriso sombrio, cheio de curiosidade e perigo.

— Humanos estão extintos. Há séculos.

Ana recuou.

Ele avançou.

— Mas você tem sangue curativo.

— Você é rara.

— E agora, é minha.

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