A Marca do Alfa

Capítulo 4 – A Marca do Alfa

O amanhecer nunca chegava suavemente naquele mundo. Era como se a luz tivesse medo de tocar a terra envenenada pela guerra, magia e sangue antigo. As torres do castelo ainda estavam mergulhadas em névoa quando Ana despertou, o corpo ainda trêmulo com o que ouvira na noite anterior.

> “E se você for a maldição que o destino me reservou… então que ela seja minha.”

As palavras de Kael não saíam de sua mente.

Nem o toque quente de sua mão.

Nem a dor silenciosa que viu em seus olhos antes de ele partir.

Ela não sabia o que ele queria. Não de verdade. Mas havia algo mais do que desejo ou curiosidade. Algo enterrado no passado dele… que agora se enroscava no destino dela.

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Mais tarde, a elfa que antes a ajudara apareceu, trazendo uma túnica escura.

— O Alfa mandou chamar você. É o dia da Marca.

— Marca?

A elfa hesitou, então explicou em voz baixa:

— Ele vai selar sua presença no território dele. Com sangue. Com magia. Assim, as outras alcateias não poderão reivindicar você.

Ana franziu o cenho.

— Isso é como uma... posse?

— É proteção — respondeu. — Mas também é vínculo. E ele nunca marcou ninguém antes. Nem mesmo suas amantes.

Ana sentiu o estômago revirar. Ela não era de Kael. E não pretendia ser.

Mesmo assim, deixou-se levar.

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O salão onde o ritual ocorreria era diferente de tudo que Ana já havia visto. Colunas de pedra negra formavam um círculo aberto, rodeado por chamas azuis. No centro, uma mesa de pedra rústica — um altar — coberta por runas ancestrais.

Kael a esperava ali. Sozinho.

Desta vez, usava uma armadura aberta no peito, expondo a pele marcada por cicatrizes antigas — e uma tatuagem que parecia se mover com a respiração. Um lobo envolto por espinhos.

— Você veio.

Ana cruzou os braços, desafiadora.

— Eu não tenho escolha, tenho?

Ele deu um passo em sua direção.

— Sempre há escolha. Mas toda escolha tem preço.

Ela aproximou-se, olhando o altar.

— E qual o seu preço, Kael?

— Parte de mim. Parte do que eu sou. — Ele a encarou. — Mas você também terá que ceder. Porque a Marca… une. Mesmo que você não queira.

Ana ficou em silêncio.

Ele se aproximou mais. O corpo quase tocando o dela. A voz um sussurro.

— Uma vez marcada, você será reconhecida como parte da minha alcateia. Intocável. Protegida. Mas isso também me amarrará a você.

— Por quê?

— Porque sua presença… está bagunçando tudo aqui dentro. — Ele levou a mão ao peito, sobre o coração. — E se eu não te marcar… outro vai. E vai tomar de você tudo que restar.

Ela fechou os olhos.

Sabia que ele estava dizendo a verdade. Sentia no ar. O poder dela atraía olhares, ganância, medo. Já haviam tentado envenená-la uma vez — e sabia que viriam outras.

— E se eu aceitar… o que mais muda?

Kael encostou a testa na dela.

— Você e eu… vamos sentir um ao outro. Mesmo à distância.

Sua dor será minha.

Seu desejo também.

Ana estremeceu.

Kael então pegou uma adaga curva, de prata negra. Cortou a palma da mão. Depois, estendeu a lâmina para ela.

— Precisa sangrar também.

Ana hesitou, mas aceitou. Fez um pequeno corte. Quando os dois uniram as mãos, o chão sob seus pés tremeu.

Luz dourada brotou entre seus dedos. Runas antigas arderam na pele de Kael… e depois se moveram para o braço de Ana. Uma marca em forma de lobo de olhos prateados surgiu ali, queimando e vibrando como se tivesse vida própria.

Ana caiu de joelhos. Uma dor profunda rasgava seu peito — mas não era física. Era como se estivesse se partindo… para ser reconstruída.

Kael caiu ao lado dela, ofegante. E então, por instinto ou loucura, puxou-a para si e colou os lábios nos dela.

O beijo foi selvagem.

Profundo.

Marcado pelo gosto de sangue e magia.

O mundo girava ao redor deles. E naquele momento, Ana soube: algo dentro dela tinha mudado para sempre. E o lobo agora estava dentro dela.

Pulsando.

Protegendo.

Desejando.

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Mais tarde, já em seus aposentos, Ana olhou a marca em seu braço. Ela ainda ardia. Ainda brilhava. Sentia o poder pulsando, como se o coração de Kael batesse em sincronia com o dela.

E então, sentiu algo novo.

Dor.

Forte. Aguda. No peito.

Não era dela.

Era dele.

Kael estava ferido.

Ou... sendo atacado.

Ela correu pelos corredores escuros da fortaleza, o instinto dominando a lógica.

Sabia onde ele estava.

Sentia o chamado.

E no salão das sombras… encontrou o horror.

Kael, ajoelhado em meio a um círculo de chamas negras, cercado por sombras com olhos rubros.

Invasores. Assassinos.

Mandados por alguém que queria Ana.

Alguém que sabia o que ela era.

E naquele instante, Ana compreendeu o verdadeiro peso de estar ligada a um alfa.

Porque se ele morresse…

Ela morreria junto.

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