O dia começara como qualquer outro. O barulho das panelas no refeitório, as vozes infantis se misturando ao cheiro de pão quente, as adolescentes rindo no pátio. Clara caminhava devagar entre elas, apoiada no braço de Miguel, saboreando cada detalhe. Mas havia no ar uma tensão diferente, uma espécie de silêncio escondido sob a alegria, como se todas pressentissem que algo se aproximava.
Júlia, incansável, circulava com uma prancheta na mão. Preparava documentos para apresentar à prefeitura e tentava manter o ânimo das voluntárias. Luana organizava as adolescentes numa oficina de poesia, incentivando-as a escrever sobre o que significava “ter voz”. Teresa, ainda tímida, rabiscava versos curtos que falavam de medo e coragem ao mesmo tempo.
Clara sentiu orgulho, mas também inquietação. O coração, tão sensível ultimamente, parecia lhe avisar que o vento mudaria.
No meio da tarde, o aviso chegou não em palavras, mas em gritos. Um grupo de moradores se aproximava do portão, carregando carta