Os dias seguintes à audiência foram tomados por uma sensação de alívio coletivo. As mulheres sorriam mais, as adolescentes caminhavam de cabeça erguida, e até os corredores da Casa pareciam mais claros, como se a própria luz tivesse decidido habitar ali. A vitória diante da prefeitura não fora apenas legal: era simbólica. Pela primeira vez, a comunidade local reconhecera em público que aquelas vozes mereciam existir.
Clara, no entanto, não permitiu que o descanso virasse acomodação. Sabia que cada conquista era apenas uma pedra no caminho, e que ainda havia muitos quilômetros a percorrer. Mas, naquela manhã, permitiu-se o raro luxo de sentar-se no jardim com uma xícara de café e observar. Crianças corriam entre os canteiros recém-plantados, mulheres riam enquanto estendiam roupas no varal, e Júlia organizava papéis com a energia de quem não se cansa de sonhar.
— Você está sorrindo sozinha — disse Miguel, aproximando-se com um olhar terno.
Clara suspirou. — É que, por um instante, sint