A casa branca junto ao mar envelhecera junto com Clara. As paredes estavam cobertas de quadros pintados por artistas locais, fotografias de viagens curtas, lembranças de encontros com leitores que se transformaram em amigos. O jardim florescia em cores intensas, cuidado por mãos pacientes que haviam encontrado na terra a mesma paz que buscavam nas palavras.
Clara já tinha cabelos completamente prateados, presos em um coque simples, e a pele marcada pelo tempo. Miguel, ao seu lado, caminhava mais devagar, mas ainda mantinha o sorriso constante que sempre lhe dera forças. A vida seguira tranquila, sem grandes ruídos, sem fantasmas. O passado, que tanto lhe roubara, já não tinha mais lugar ali.
Naquela manhã, Clara sentou-se na varanda, o mar diante de si, e abriu um novo caderno. A capa era azul, simples, igual às que usara desde que decidira registrar a própria vida. Escreveu devagar, as mãos já trêmulas, mas os olhos firmes:
"Este é meu último caderno. Não porque a vida tenha acabado,