O verão chegara com força à pequena cidade. O calor trazia turistas, barracas coloridas pela praia, músicas que se misturavam ao som das ondas. Clara observava tudo da varanda de sua casa branca, sentindo-se parte daquele lugar e, ao mesmo tempo, guardiã de uma história que poucos conheciam por inteiro.
Os anos lhe haviam dado paz, mas também um novo tipo de inquietação. Já não era a mulher que lutava contra inimigos visíveis, tampouco a que escrevia para se salvar da própria dor. Agora, sentia nascer dentro de si uma necessidade diferente: deixar um legado vivo, algo que não fosse apenas páginas impressas ou palavras ditas em palestras.
Miguel notou esse brilho nos olhos quando a encontrou sentada diante do caderno. — Está pensando em um novo livro? — perguntou, servindo-lhe uma fatia de bolo.
Clara fechou o caderno e sorriu. — Não. Estou pensando em algo maior.
— Maior? — ele arqueou as sobrancelhas.
— Uma fundação — respondeu, quase sussurrando. — Um espaço para mulheres que passar