O apartamento que Clara alugara desde a chegada ao país era aconchegante, mas sempre carregava um ar de transitoriedade. As malas encostadas no canto, a mobília básica, as paredes sem quadros. Era um espaço seguro, mas não era lar.
Foi Miguel quem trouxe o assunto, numa manhã ensolarada, enquanto preparava café na cozinha.
— Você já pensou em… ficar? — perguntou, mexendo a colher dentro da xícara. — Quero dizer, não como hóspede de passagem. Em ter algo só seu, um espaço que seja mais do que um refúgio temporário.
Clara ergueu os olhos do jornal. — Você fala de uma casa.
— Sim — respondeu ele, sorrindo. — Uma casa. Pode ser pequena, pode ser simples. Mas que seja nossa escolha, não apenas a sobra de uma fuga.
Clara permaneceu em silêncio por alguns segundos. A ideia lhe provocava um frio na barriga. Ter uma casa significava fincar raízes, acreditar que o amanhã poderia ser mais do que sobrevivência. Significava aceitar que tinha futuro.
— Uma casa… — repetiu, quase para si mesma.
Na s