O vento soprava forte naquela manhã, agitando as cortinas do apartamento de Clara. A cidade costeira já lhe era familiar: as ruas estreitas, o cheiro de pão fresco vindo das padarias, o mar que se estendia diante dela como um velho conhecido. Já não se perdia nas vielas, já conhecia os rostos que passavam diariamente, e até era cumprimentada pelos comerciantes com um sorriso. Mas, mesmo em meio a essa sensação de pertencimento, algo ainda lhe pesava no peito: a dúvida sobre o que queria para si.
Ela havia vencido tantas batalhas, enfrentado tantos fantasmas, derrubado homens poderosos, mas agora se via diante de um desafio diferente. Não se tratava de sobreviver, mas de viver. E viver exigia algo que ela ainda não sabia se tinha: coragem para confiar.
Miguel continuava ao seu lado. Sempre presente, sempre paciente. Ele não exigia nada, não cobrava nada, apenas caminhava com ela, como se a vida lhe tivesse ensinado que a verdadeira força está em esperar. Mas Clara sabia que essa espera