O telefone de Clara tocou numa manhã cinzenta, quando ela ainda tomava café na cozinha da nova casa. O cheiro do pão que havia assado enchia o ambiente, mas a voz do outro lado da linha dissipou o calor do momento. Era Augusto, o advogado.
— Clara, preciso te informar. — A voz dele estava séria, quase cautelosa. — Adriano conseguiu que a apelação fosse aceita para análise.
A xícara tremeu em suas mãos. — O que isso significa?
— Significa que ele vai tentar reduzir a pena. E que, de alguma forma, ainda acredita que pode manipular o sistema.
Clara respirou fundo, sentindo a tensão crescer em cada músculo. O passado ainda batia à sua porta, mesmo depois de todo o esforço para deixá-lo para trás.
Miguel percebeu a expressão dela ao desligar o telefone. — O que aconteceu?
Clara contou. A cada palavra, o semblante dele endurecia. — Ele não desiste — murmurou Miguel. — Mesmo preso, ainda acha que pode te alcançar.
Ela olhou para ele, o olhar firme apesar do medo que latejava no peito. — Mas