A cidade costeira que Clara escolhera para recomeçar tinha ruas estreitas, casas coloridas e mercados que exalavam aromas de especiarias e flores frescas. O idioma soava estranho em seus ouvidos, mas a melodia das vozes locais a acolhia. Não havia jornalistas na porta do prédio, nem sombras à espreita. Apenas o som distante das ondas e o burburinho de turistas que passavam sem lhe dar importância.
No início, tudo parecia um sonho. Clara caminhava pelas feiras, comprava frutas exóticas que nunca havia provado, sentava-se em cafés anônimos para observar a vida. Descobriu o prazer de se misturar à multidão sem carregar a marca do sobrenome Monteiro. A cada manhã, acordava sem o peso de vigiar portas e janelas, sem temer telefonemas, sem sentir o eco da voz de Adriano.
Mas a liberdade também trazia inquietações. O silêncio, tão desejado, às vezes soava fundo demais. Havia noites em que ela se virava na cama, sentindo o vazio ao lado, perguntando-se se realmente conseguia confiar em alguém