A prisão tinha um ritmo implacável: o barulho das chaves girando nas celas, os gritos de guardas no corredor, o som metálico das grades que abriam e fechavam em intervalos previsíveis. Adriano Monteiro já começava a se acostumar com essa cadência amarga, mas cada noite em claro lhe lembrava que o mundo lá fora continuava girando sem ele.
Deitado na cama estreita, olhos fixos no teto manchado, ele remoía um pensamento que crescia como uma febre: Clara estava livre demais. O nome dela aparecia em jornais, não como vítima, mas como sobrevivente. Alguns veículos até a exaltavam como símbolo de força. E isso, para Adriano, era a derrota mais cruel.
Uma tarde, no refeitório, aproximou-se de um homem que tinha fama de “resolver problemas” mesmo atrás das grades. Magro, olhar sombrio, sempre cercado por pequenos favores. Chamava-se Braga.
— Preciso de alguém lá fora — disse Adriano em voz baixa, deslizando um cigarro no bolso do outro. — Quero que encontrem alguém.
Braga arqueou uma sobrancel