Felipe
A madrugada tem um cheiro particular quando a tensão está à solta — ferro, chuva contida e algo parecido com presságio. Eu não durmo. Não preencho silêncio nenhum. Eu apenas espero. E quando o telefone vibra na mesa… eu já sei.
Helena.
Mas não é ela.
É Eduardo.
— Felipe… — a voz dele está falhada, quase tensa demais pra ser casual. — Precisamos conversar. É sobre a Helena.
O gelo que sempre carreguei no peito volta. Aquele que achei ter derretido quando saí da prisão, quando tentei recomeçar, quando tentei — pela primeira vez — ser alguém que ela pudesse amar sem medo.
— Fala. — minha voz sai cortante.
— Ela está sendo seguida. Dentro da empresa. — Pausa. — E não é alguém de fora.
Meu corpo reage antes da lógica. Levanto, pego a jaqueta, a chave, a arma legalizada que guardo por proteção — e por guerra.
— Quem é?
Eduardo hesita.
Isso me irrita.
— Quem está seguindo a Helena?
— Você não vai acreditar. — diz ele, enfim. — É alguém que você confiou durante anos.
O estômago aperta.