O bilhete

Dia seguinte

Helena

Acordo com a boca seca, o quarto ainda cheirando a ele — perfume amadeirado e o calor do corpo que dormiu ali há pouco. A cama está vazia, Felipe já havia saído, mas a ausência parece uma presença densa, grudando na minha pele. Sento devagar, o lençol escorrega, e meus dedos procuram, quase sem querer, a mesa de cabeceira.

O bilhete está ali, como uma lâmina de papel: a caligrafia dele, firme e direta, me encara. Pego-o e as palavras pulsam como ferro aquecido:

"Você pode correr, mas não pode se esconder. Quando eu quiser a verdade, vou arrancá-la de você."

O papel pesa nas minhas mãos. Sinto a textura do papel, o relevo da tinta, e uma onda quente sobe pelo meu corpo — não é só medo, é um constrangimento que me corrói por dentro. As letras parecem queimar a pele dos meus dedos; procuro ar e o ar parece estreito, como se a sala tivesse diminuído. Meu pulso acelera, cada batida um tambor que anuncia perigo.

A lembrança dele dormindo — o braço largo sobre o lençol, o
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