Helena
Horas depois, estou no apartamento de Felipe. O silêncio é pesado, interrompido apenas pela respiração dele, lenta e profunda. Por mais que eu tente resistir, basta o timbre grave de sua voz me atravessar que minhas defesas ruem, desmoronando como se nunca tivessem existido.
Agora, deitada em seus lençóis, sinto o tecido macio contra minha pele nua, ainda impregnada pelo calor dele. Viro o rosto e o observo dormir. A expressão de Felipe é serena, quase angelical, como se a violência que carrega em cada gesto tivesse desaparecido no sono. Ele parece intocável, inalcançável… mas eu sei. Eu conheço a fera escondida sob essa calma. Sei do que ele é capaz.
E é isso que me apavora.
Se a verdade vier à tona, se ele descobrir o que escondo, não será só raiva — será ódio. E não sei se suportaria o peso do desprezo em seus olhos. É uma contradição cruel: prefiro a prisão de seus braços, a ser consumida pela sua obsessão, do que sentir sua indiferença gelada me aniquilar.
Fecho os ol