Helena
Horas depois, ainda trêmula, me encolhi no sofá. As mãos tremiam tanto que o celular quase caiu do meu colo. O apartamento parecia maior, vazio, um eco frio daquilo que tinha acontecido horas antes. O cheiro dele ainda estava em mim — suor, fumaça, o gosto amargo do cigarro misturado ao sal da minha pele. Eu me sentia marcada, não só no corpo, mas na alma.
Felipe tinha saído sem uma palavra. Mas eu não precisava perguntar. Eu sabia para onde ele ia. Eu sentia isso no ar. Ele estava atrás de Lucas. Atrás do meu irmão. Atrás da última parte da minha família que ainda me restava.
Meu estômago doía como se tivesse sido socado. O coração batia alto demais, tão forte que parecia doer nos ossos. Era isso. Eu tinha que escolher.
Proteger Felipe, o homem que moldou a minha infância com a presença implacável, que anos depois tomou minha vida e meu corpo como se fossem dele, deixando marcas invisíveis que ninguém jamais apagaria. Ou proteger Lucas, o irmão que eu embalei no colo, o menino