Helena
O portão do presídio se fecha atrás dele com um som seco, metálico, que corta o ar como uma sentença ao contrário. Por um instante, fico imóvel, observando-o sair — mais magro, o rosto marcado por sombras que o tempo e a culpa deixaram.
Felipe Diniz.
O menino que na infância foi o meu refúgio. O homem que anos depois me destruiu. E o mesmo que, de alguma forma inexplicável, ainda habita cada canto de mim.
O vento frio da manhã toca o meu rosto, e o gosto do ar é o mesmo de quando tudo começou: misto de medo e desejo. Ele caminha até mim com passos lentos, como se cada movimento fosse uma confissão. Não há imprensa, nem seguranças, nem vultos do poder que o cercavam. Só ele — despido de tudo, exceto dos olhos que sempre me queimaram.
Quando para diante de mim, o silêncio é insuportável. Se eu falasse agora, a voz sairia tremendo. Se ele tocasse em mim, o mundo inteiro poderia ruir.
— Você veio — ele diz, a voz rouca, quase quebrada.
Não é uma pergunta. É uma constatação.
Sim, eu