Felipe
O tribunal cheira a ferro e perfume barato.
As luzes frias ardem nos olhos, o ar é pesado, cheio de julgamento. Os flashes das câmeras me seguem como lâminas afiadas. Mas nada disso me atinge — até vê-la.
Helena.
De preto, como se o luto dela fosse por nós dois. Os cabelos soltos caem sobre os ombros, a pele pálida contrasta com o olhar firme que já foi abrigo — e agora é tormenta. O mundo inteiro se dissolve. Só ela permanece.
Quando nossos olhos se cruzam, sinto o peito se abrir em duas metades. Uma sangra de arrependimento; a outra pulsa com o que ainda sobrevive — amor, desejo, fé.
A voz do promotor ecoa ao fundo, as palavras se misturam: fraude, corrupção, manipulação. São só ruídos. Porque o único som real é o coração dela batendo do outro lado da sala. Eu sinto. Como se sempre tivesse pertencido a mim — e eu tivesse esquecido como cuidar.
Quando a juíza a chama, o silêncio cai como uma sentença. Helena se levanta. Cada passo que ela dá até o púlpito é uma confissão silen