Helena
Na manhã seguinte, encontro Felipe na cafeteria do térreo. A cafeteria ainda cheira a café recém-passado e a madrugada. As mesas estão quase vazias, a luz ainda é azulada, e há algo de silenciosamente íntimo naquele horário — quase como se o mundo tivesse esquecido de acordar.
Eu o vejo antes que ele me veja.
Felipe, sentado na mesa do canto, de costas para a porta. A camisa social está dobrada nos antebraços, revelando cicatrizes que só eu conheço — algumas na pele, outras na alma. Ele segura o tablet com uma mão, mas a outra está cerrada sobre a mesa, tensionada, denunciando o que o rosto tenta esconder.
E, por um breve segundo, me lembro da noite anterior.
O som seco do vidro do terraço quando Adrian deu aquele passo em minha direção. A tensão vibrante que cresceu no ar. E Felipe — surgindo como uma sombra disposta a incendiar o horizonte se fosse preciso.
“— Deixa ela ir.”
A voz dele, grave, firme, cortando o espaço entre nós três como uma lâmina.
Eu ainda sinto o i