Dias depois
Helena
Durante um evento da empresa, Adrian me convida para subir ao terraço. O vento sopra forte. As luzes de São Paulo piscam como estrelas nervosas lá embaixo.
— Você e Felipe têm uma história... interessante — ele diz, apoiando-se na mureta. — Li o livro dele. Quase poético.
— Não foi escrito pra entreter — respondo. — Foi um acerto de contas.
— Com você ou com ele mesmo?
Silêncio.
Adrian se aproxima um pouco mais.
— Ele ainda te ama. Isso é óbvio.
— Isso não é da sua conta.
Ele ri, um som baixo, arrastado.
— Helena, tudo é questão de poder. Até o amor.
Essa frase me congela.
É a mesma que Felipe disse anos atrás. As mesmas palavras, na mesma entonação.
— Você fala como ele. — digo, cruzando os braços.
— Talvez porque entenda o que ele é. — Adrian dá um passo, e agora estamos próximos demais. — Homens como Felipe não mudam. Só aprendem a disfarçar o instinto.
— Está enganado. — respondo, firme. — Ele mudou.
Adrian ergue o queixo, o olhar cortante.
— Então me prove.
O v