Amanda estava na biblioteca da mansão — seu refúgio de silêncio e memória. As estantes altas, o cheiro levemente adocicado de couro e papel antigo, e a luz morna do fim da tarde criavam um casulo onde ela podia, por alguns minutos, fingir que o caos não existia. Tentava se concentrar em uma planilha no laptop, mas cada célula preenchida parecia ecoar o nome dele: Daniel.
E como se o pensamento tivesse poder, ela ouviu passos. Não precisou olhar. O som era familiar — pesado, hesitante, quase arrependido.
Seu corpo reagiu antes da mente. Os ombros enrijeceram, o maxilar travou. Ela não se virou. Estava cansada de fantasmas tentando ganhar voz.
— Fiz chá — disse Daniel, parado na soleira da porta. A voz era baixa, mas carregada de história. — Camomila com mel. Lembro que você tomava quando queria me matar com os olhos, mas manter a dignidade.
Amanda não sorriu. Nem ergueu os olhos. Apenas fechou o notebook com calma cirúrgica.
— Obrigada, mas prefiro café. Preto. Quente. Sem doçura. Como