A madrugada avançava, silenciosa, espessa como névoa. A mansão dormia, mas Daniel não.
Sentado à beira da cama do antigo quarto que agora ocupava como hóspede — e não mais como filho — ele segurava uma garrafa de uísque pela metade. Os dedos trêmulos, o olhar perdido.
Ao lado da cama, uma pasta aberta com papéis antigos: fotos dele e de Amanda sorrindo em viagens, bilhetes guardados, uma aliança amassada que ele havia escondido dentro de uma caixa de relógio. Ele não sabia por que havia trazido tudo aquilo de volta. Talvez por tortura. Talvez por esperança. Talvez só para ver se ainda doía — e doía.
Tomou outro gole.
A bebida queimava a garganta, mas era o único calor que sentia.
As palavras de Amanda voltavam à sua mente como estilhaços:
"Não me use como ponte pra sua redenção..."
Ele não queria. Queria?
Bateu a garrafa contra a mesa, com força, mas sem quebrar. Como se quisesse se quebrar também.
Se levantou e foi até a janela. A noite lá fora parecia zombar dele. Havia silêncio dem