A noite envolvia a mansão como um véu pesado, abafando sons e pensamentos. O relógio marcava quase meia-noite quando a porta da suíte de Daniel recebeu batidas secas, ritmadas. Ele não respondeu de imediato — apenas lançou um olhar sombrio à porta, depois ao copo quase vazio em sua mão.
— Entra — murmurou, com a voz arrastada.
Vitória surgiu como uma sombra precisa, vestindo um robe de cetim escuro que se moldava ao seu porte altivo. A luz tênue do abajur fazia seus brincos cintilarem, mas seus olhos eram ainda mais cortantes. Fechou a porta devagar, com a ponta dos dedos, como quem sela um segredo.
— Bebendo sozinho no escuro… — comentou, mais constatação do que crítica. — É um clássico. Mas ainda assim, patético.
Daniel não se mexeu. Apenas virou o rosto para ela, os olhos pesados, mas cheios de um cansaço agressivo.
— Melhor isso do que fingir controle que não existe.
— Você sempre teve talento pra autodestruição. — Ela sentou-se na poltrona oposta, cruzando as pernas com elegância