VITTORIO NARRANDO
O cheiro do couro italiano ainda pairava no ar quando fechei a porta do escritório. A madeira maciça abafava os sons lá de fora, e naquele momento, o silêncio era minha única companhia.
Silêncio e expectativa.
A pasta com os documentos do casamento já estava sobre a mesa. Tinha o peso de uma sentença. Mas diferente do que muitos pensariam, não era ela quem estava sendo condenada. Era eu. Ou talvez os dois.
A cada passo que eu dava rumo a esse destino, sabia que deixava algo para trás. Mas o que se abandona quando já se perdeu tudo?
Encostei no encosto da cadeira de couro, os olhos presos no decanter de uísque que repousava na prateleira à frente. Eu não bebia naquele horário. Não sem motivo. Mas aquele casamento… esse acordo… era motivo suficiente.
O nome dela assinado na linha pontilhada me causava mais inquietação do que qualquer ameaça vinda de família rival.
Eu não entendia completamente o que ela provocava em mim. Não era amor, não era desejo bruto. Era mais pa