A manhã chegou banhada de sol e cheiro de grama úmida.
Mila abriu as janelas e deixou o vento percorrer cada canto da casa.
Era engraçado pensar que, meses antes, aquele lugar parecia apenas uma tarefa a cumprir — um peso que não tinha escolhido carregar.
Agora, era impossível imaginar outro lugar para acordar.
Blerim já estava do lado de fora, medindo a parede da futura oficina.
Toto o acompanhava com devoção, embora não entendesse nada sobre ferramentas.
— Tá ficando sério, hein? — Mila perguntou, apoiando o cotovelo no parapeito.
— Muito sério. — Ele ergueu um caderno cheio de rabiscos. — Estou anotando tudo. Quero montar um guia de restauração. Pra quem tiver interesse.
— Um guia?
— Por que não? — Ele deu de ombros. — A gente passa tanto tempo aprendendo e acha que não tem nada a ensinar. Mas sempre tem.
Mila sorriu, sentindo o peito aquecer.
— Então, além de restaurador, vai ser autor?
— Talvez. — Ele piscou. — Mas não se preocupe: seu posto de escritora principal tá garantido.
E