O domingo amanheceu preguiçoso, com nuvens finas cobrindo o céu e um vento fresco entrando pela fresta da porta lateral.
Mila acordou antes do alarme — não por ansiedade, mas porque algo dentro dela parecia inquieto, pedindo atenção.
Passou um café forte e ficou de pé, olhando a sala silenciosa.
A pilha de correspondências e caixas ainda estava lá, como um lembrete constante de tudo o que adiava.
Não era só preguiça.
Era medo de descobrir que as histórias que tinha criado na cabeça não combinavam com a verdade.
Mas naquela manhã, o medo parecia menos paralisante.
Talvez porque a casa já fosse outra.
Talvez porque ela também fosse.
Respirou fundo.
Puxou uma das caixas para perto da poltrona e sentou-se no chão.
Com cuidado, começou a retirar envelopes, fotografias, pequenos objetos embrulhados em panos antigos.
Cada coisa tinha um cheiro.
De tempo.
De espera.
De algo que queria ser visto.
Demorou quase uma hora até encontrar um bilhete dobrado dentro de uma caixinha de madeira clara.
R