A manhã nasceu cinza.
A casa inteira parecia diferente — não pela luz, mas pela ausência.
Rose caminhava pelos cômodos como quem cumpre uma rotina mecânica: café, relatórios, checar mensagens, ignorar chamadas.
Pedro, ainda no quarto, ouviu o som das xícaras, o abrir e fechar das portas, mas não ouviu a voz dela.
Naquela casa, o silêncio falava alto demais.
Desceu as escadas com cuidado, ainda sentindo o corpo se readaptar.
Rose estava na cozinha, vestindo uma blusa leve, o cabelo preso num coque despretensioso.
O rosto estava sereno… talvez demais.
— Bom dia. — disse ele, tentando soar casual.
— Bom dia. — respondeu ela, sem erguer o olhar.
O som da colher batendo na xícara foi a única resposta ao espaço entre eles.
Pedro se aproximou, apoiando-se no balcão.
— Dormiu bem?
— Dormi. — ela mentiu.
A noite anterior ainda girava na mente dela como um pesadelo que insiste em parecer real.
O rosto dele se inclinando, o toque, o beijo da outra mulher, o vinho, o riso.
A cena vinha em flashes