A madeira da lareira estalava devagar. Do lado de fora, a neve caía em flocos preguiçosos, como se o céu também estivesse cansado.
Madeleine estava sentada na poltrona, com os pés cobertos por meias grossas e o corpo envolto pelo cobertor azul-marinho. O prato do jantar, com restos de pão escuro e queijo de cabra, repousava sobre a mesinha. A xícara de chá esfriava ao lado, esquecida.
Na tela da câmera, as fotos do cais ainda brilhavam, revelando rostos que ela começava a reconhecer com afeto: o velho da rede, o menino do balde, Emil rindo sob o gorro, Anders com as mãos cobertas de sal. Ela havia capturado mais do que imagens — havia gravado provas de pertencimento.
Mas naquela noite, havia um outro silêncio. Não o silêncio do frio ou do cansaço. Era um silêncio de saudade. De um nome que não era dito havia dias, mas que não saía de dentro dela.
Beatrice.
Madeleine levantou-se devagar, foi até a escrivaninha que improvisara com uma tábua larga sobre dois cavaletes e acendeu o abajur