O vento tinha mudado de direção naquela manhã. Vinha do mar, úmido e salgado, carregando consigo o som dos mastros batendo uns nos outros, como sinos enferrujados.
Madeleine desceu até a marina com passos firmes, a câmera pendurada no pescoço e as luvas de lã cinza cobrindo metade dos dedos. O chão estava levemente escorregadio, coberto por uma crosta de sal seco que estalava sob as botas.
Erik a esperava encostado num dos barris de rede, com uma maçã na mão e um sorriso no rosto.
— Olha só, a turista apareceu.
— Eu moro aqui, lembra? — ela respondeu, tentando parecer mais à vontade do que estava.
— Claro que sim. Mas todo morador tem direito a um ou dois dias de turista. Ajuda a não esquecer por que ficou.
Ele deu um último gole num copo térmico de café, jogou o caroço da maçã num cesto e bateu palmas para espantar o frio.
— Pronta pra ver como os homens de verdade acordam cedo e cheiram a peixe?
Madeleine riu.
— Se isso for uma tentativa de flerte, é a pior que já ouvi.
— Eu já nem