O barulho começou ainda na madrugada. Primeiro foram os estalos no telhado, depois o vento empurrando as janelas com fúria de mar aberto. Às sete da manhã, a paisagem estava irreconhecível. Tromsø havia desaparecido sob uma cortina branca — neve densa, grossa, lançada em todas as direções como se o céu estivesse em desacordo com o mundo.
Madeleine olhou pela janela da cozinha, a caneca de chá entre as mãos, e suspirou. Nada da obra funcionaria naquele dia.
Recebeu a confirmação pouco depois, com uma mensagem de Clara: “Obra suspensa hoje. Fique onde está. Cuidado com o acúmulo nos telhados.”
Ela respondeu apenas com um emoji de nuvem e voltou a encarar o fiorde sumido.
A casa estava silenciosa demais. Até o aquecedor parecia sussurrar, como se respeitasse o tom do dia. Madeleine tomou banho sem pressa, depois trocou o moletom por um suéter azul-marinho e uma legging quente. Em vez de descer para a sala direto, subiu ao quarto.
Era o cômodo menos habitado da casa. Ela dormia lá, claro.