A neve caía devagar, como se tivesse esquecido que era inverno.
Madeleine se mexeu na cama, os lençóis enrolados ao redor do corpo, a respiração ainda presa entre o sonho e a vigília. Demorou alguns segundos até entender que estava no chalé. Que o ar gelado que entrava no quarto vinha de uma fresta mal fechada da janela. Que o som abafado de pinhões estalando vinha do aquecedor silencioso.
Mas no sonho, não. No sonho, ela segurava Beatrice nos braços — tão pequena quanto no primeiro mês. A menina usava um macacão de algodão com estampas de patos. Chorava baixinho, como se pedisse desculpas. Madeleine balançava o corpo devagar, sentada no chão do antigo apartamento em Londres, as costas encostadas na parede da cozinha, a cabeça latejando de exaustão. Havia leite derramado sobre a camiseta. E um bilhete do lado da pia que dizia apenas: “Volto mais tarde.”
Mas ela não chorava no sonho. Só sussurrava para a filha palavras que jamais soube dizer em voz alta naqueles dias:
— Eu estou aqui.