Guilherme
A manhã estava fria, dessas que a gente estranha até o sol. Eu já estava pronto pra sair pro hospital, jaleco nos ombros, quando o telefone tocou.
Era o plantão avisando que havia um caso grave chegando pela rodovia um acidente feio, com vítima perfurada no tórax.
Meu coração disparou, mas não era só pelo acidente. Era pelo silêncio dela. Pela espera sem fim.
Será que ela vai responder? Será que vai ter algo a dizer? Ou será que esse silêncio é a resposta?
Engoli a ansiedade e corri pro hospital.
Na sala de emergência, me deparei com a cena mais brutal que vi nos últimos tempos: um homem desacordado, um vergalhão atravessando o corpo dele da clavícula até quase a lombar.
— Jesus… sussurrei, puxando a máscara. — Como ele ainda tá vivo?
Exames rápidos. Imagens. A barra estava perigosamente próxima da coluna torácica.
— Se mexermos errado, ele morre. Se não mexermos, ele também morre.
Respirei fundo, chamei Maria da vascular, Felipe da neuro e os outros da cardio e anestesia. M