Fernanda
O cheiro do incenso barato misturado ao suor e ao perfume doce enjoava. Luzes vermelhas pulsavam nos cantos do salão, refletidas nas cortinas de veludo gasto, e mulheres transitavam em silêncio, sombras fugidias entre clientes ricos, bêbados ou perigosamente sóbrios. Os homens falavam russo, inglês ou árabe — todos querendo uma noite que terminasse com alguma alma dilacerada para sempre. Eu estava em Ufa, presa em um bordel clandestino, onde Anya agora decidira me expor como a principal mercadoria.
O corpo doía, mas era a mente que mais sofria. A cada toque forçado, a cada olhar invasivo, me lembrava do símbolo “V” sangrento que gravara nas paredes do contêiner — promessa de sobrevivência, jura de resistência. Era tudo o que eu tinha. O resto era medo, mas também uma raiva que crescia, alimentando cada pensamento.
Logo na primeira noite, conheci duas mulheres: Lena, ucraniana, com os olhos mais tristes que já vi, e Zoya, uma chechena de cabelos curtos, cicatriz no queixo e um